O ritmo que recicla vidas: educação musical com latas, em Duque de Caxias

O som tirado das latas ecoa pelo bairro Jardim Vinte e Cinco de Agosto, em Duque de Caxias. Vai começar mais um ensaio do Afrolata, um grupo de adolescentes que descobriu, através de um projeto de educação musical, que das latas de tinta e de outros materiais reciclados pode nascer o som da paz. Apesar do nome, o grupo não é vinculado ao AfroReggae, que montou o projeto pioneiro em 1998.

O “afrolata” surgiu há nove meses quando o instrutor Vitor de Oliveira, de 46 anos, que comanda o projeto, e os jovens, no espaço cedido pela igreja Assembléia de Deus Jardim Vinte e Cinco de Agosto (ADJ 25A), resolveram reciclar objetos. No lugar de tambores, lata e cabos de vassoura. Até a cola em bastão faz o papel de baqueta, para tocar os instrumentos de percussão.

— O preço dos instrumentos está muito fora da realidade deles. As baquetas de nylon (de tamborim), que são ideais por que não amassam as latas, custam cerca de R$ 23, já a cola em bastão sai por R$ 0,50 centavos cada. Como sempre dei aulas de música, eu tinha três baterias que desmontei , juntei com as latas e criamos o grupo.

O amor por ensinar começou há mais de dez anos. Vítor, na época motorista de ônibus, foi o primeiro “Amigo da Escola” na região. No projeto criado pela Rede Globo, em 1999, para sensibilizar a população sobre a importância da Educação, ele dava aulas de handebol, futebol e orquestra de flautas, dentro da comunidade do Parque Beira Mar, também em Duque de Caxias.





— Nunca me conformei com o óbvio. Não consigo viver somente o dia a dia sempre busco ir além.

Orgulho das mãos calejadas pela música

As mãos calejadas pelas baquetas, após horas de ensaio, são motivos de orgulho para os jovens.

— O mais complicado é assumir a guitarra depois de bater lata. Por outro, os ensaios ajudam na marcação do tempo — argumenta Juliano Gomes, de 16 anos, que também toca teclado, guitarra e bateria. Ele sente orgulho em tocar no altar da igreja.

Eles seguem pela trilha do acolhimento

O grupo visita lares, comunidades, asilos e orfanatos evangelizando e pregando amor

Aproximadamente 90 adolescentes, dos 11 aos 17 anos, participam do projeto que, além de ensinar ritmo e percussão, também dá um novo sentido à vida dos jovens e daqueles que são visitados por eles.

Elisa Ferreira, de 15 anos, é skatista e roqueira e se sentia discriminada nas ruas pelo seu cabelo vermelho e seu jeito de ser:

— O mais legal é que o afrolata te aceita como você é. Não precisei mudar as minhas roupas e o meu modo de ser. O Espírito Santo molda o vaso — brinca.

Com um apito na boca e voz firme, Vitor também “recicla vidas”:

— A energia do trabalho é tão bacana que até quem não é evangélico acaba se convertendo — diz.

O grupo se apresenta em outras igrejas, faz evangelismo nos lares, comunidades, asilos e orfanatos, no que eles chamam de “trilha de acolhimento”.

Fonte: Jornal Extra





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